quinta-feira, 19 de julho de 2018

Refletindo Mt 11,28-30


O JUGO
Hoje este término e o seu significado não são mais atuais. Já há muitos anos os agricultores não usam mais o arado tradicional ou primitivo, os avós agricultores de nossos pais seguramente usaram, mas já a partir deles, fizeram adaptações para que os animais não sofressem tanto para o trabalho. Porém, sob o jugo, aquele primitivo que fala o Evangelho, a cabeça do animal era obrigatoriamente abaixada em direção a terra, e assim o animal se tornava mais dócil.

A palavra jugo permaneceu para indicar uma condição de opressão, um povo obrigado a obedecer sem poder levantar a cabeça. Para alguns, a própria vida é um jugo; a vivem como um peso insuportável. Se diz que isto é um sintoma de velhice; mas, mesmo os jovens não são sempre felizes em viverem. A inquietude dos jovens se manifesta na pressa que possuem: quando serei grande, quando concluirei os estudos, quando terei um trabalho... Mas é este pensamento de futuro que distrai do presente e impede de gozar a beleza se encontra. Alguém disse: a juventude é um dom precioso, pecado que seja presenteada a gente imprudente como os jovens, que não sabem aproveitarem! Mas não só os jovens, a maior parte das pessoas vivem assim.

Um monge ancião de Valaam respondeu a um monge que veio consultá-lo sobre a vida espiritual: Tu nunca te contentarás. No inverno pensas na primavera, na primavera pensas no verão, e no verão pensas no fato que os dias se tornam menores*, e o hoje para ti é sempre um peso.

Assim fazem muitos: vivem em função aquilo que vem depois e, se não vem, se desesperam.

O JUGO DO PECADO
É uma expressão habitual na literatura espiritual dizer que os pecados pesam. Como imaginar este peso? Costumeiramente falamos de peso na consciência. Orígenes** amplia o horizonte deste conceito, até compreender o mundo todo.

Adão, istoé, o homem criado por Deus, olhava para o alto; em todas as coisas terrenas via a imagem da realidade celeste, e a natureza era para ele escola do Espírito. O pecado, escreve Orígenes, obrigou o homem a olhar para baixo, baixar a cabeça, e a ver coisas que não serviam a elevação da mente, e por isso pesavam.

O mundo é duro, mas não podemos negar que muito do que vemos seja belo: a natureza, os jovens, a arte... Mesmo se tantas coisas belas e bonitas também cansam. Como estou cansado de ver coisas belas!, suspira o protagonista do filme de Tarkovskij, "Nostalgia". É a história de um exilado na Itália, que perdeu as próprias raízes, e por tanto admirar as belas coisas do país se sente cansado, afadigado.

Também nós com o pecado, perdemos nossas raízes, nos tornamos exilados no mundo e a vida para nós se torna um peso.

TOMAI SOBRE VÓS O MEU JUGO
Exilado é quem quer fugir do jugo cotidiano. Ou até mesmo aceitar portar com Cristo, se tornaria mais leve.

Os autores espirituais dão quatro possíveis razões pelas quais o jugo poderia não pesar mais. 1. A consciência da própria força, a confiança de ser capaz de portar aquele peso, porque Cristo nos assegura que ninguém será provado além de suas forças. 2. A consciência que aquele peso devemos portar só por certo pedaço de estrada; a vida é breve, comparada a eternidade. 3. A livre aceitação daquele peso por amor: quando se ama alguém, levamos com gosto também suas pesadas malas. 4. Quando levamos o peso em duas pessoas se pesa menos, e nós de fato portamos o nosso jugo juntos com Cristo.

Porém, se estas razões fossem só expostas assim, em abstrato, não seriam muito convincentes. Ganham valores se vem da experiência de quem já as viveu. Santa Ludwina*** não conseguia suportar a sua grave doença e pensava em suicídio. Mas, em um certo ponto do seu sofrimento compreendeu que estava sofrendo com Cristo. Morreu serena dizendo: se soubesse que com uma Ave Maria obteria a saúde, creio que não rezaria.

Cardeal Tomás Spidlík 


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*Na Europa
**Orígenes, cognominado Orígenes de Alexandria ou Orígenes de Cesareia ou ainda Orígenes, o Cristão, foi um teólogo, filósofo neoplatônico patrístico e é um dos Padres gregos.
***Santa Liduina.